domingo, 30 de janeiro de 2011

Empregabilidade

Então, povo, eu tenho que postar alguma coisa "real", que não seja só enchimento de linguiça (é tão estranho sem o trema, ams eu vou me acostumar... um dia...). Por isso, decidi colocar uma resenha que fiz pra o Hospital Português, onde trabalho, como parte do Programa de Estagiários 2010. Essa resenha foge um pouco da formatação correta, atendendo-se às normas da ABNT. Porém, a Analista de T&D que corrigiu disse que eu fiz colocações muito boas e eu decidi acreditar. xD

Brincadeiras a parte, essa resenha tem certo valor (acho que sentimental) pra mim, pois diz respeito a alguns momentos de minha vida profissional, dentro e fora do horário de trabalho. Ela foi feita em cima do texto "Empregabilidade: o caminho das pedras", de José Augusto Minarelli, e está disponível abaixo:

MINARELLI, José Augusto. Empregabilidade: o caminho das pedras. 17 ed. São Paulo: Gente, 1995.


“Adequação vocacional, competência profissional, idoneidade, saúde física e mental, reserva financeira e fontes alternativas e relacionamentos” (p.49). Através da enumeração desses seis fatores, José Augusto Minarelli inicia sua argumentação acerca do conceito de empregabilidade e de seus elementos constituintes, os quais denominou de seis pilares da empregabilidade. De acordo com o autor, tais elementos unidos conferem empregabilidade ao profissional, a qual é entendida como “a capacidade de gerar trabalho, de trabalhar e de ganhar” (p.49). Ao longo do texto, Minarelli deixa claro que não se pode alcançar tal atributo desconsiderando-se algum dos pilares; faz-se necessário segui-los a rigor a fim de alcançar a empregabilidade e, possivelmente, mantê-la, o que exige um pouco mais de empenho do profissional. Complementarmente a Minarelli, podemos recorrer a Cabrera (2000), que afirma que “o emprego não pertence mais ao trabalhador, mas ele é o responsável por garantir a sua empregabilidade” (Cabrera, 2000. p.80), ou seja, a inserção e a manutenção da posição do profissional no mercado de trabalho se dão de forma dinâmica e contínua, sendo que para o primeiro isso ocorre através da coesão e da articulação entre os seis pilares citados anteriormente.
O primeiro pilar citado por Minarelli foi o da adequação vocacional. De acordo com o mesmo, este pode ser entendido como o exercício de uma atividade que corresponde à vocação do profissional, inferindo que feliz “é o profissional que encontrou a ocupação que corresponde às suas aptidões, seus interesses e suas possibilidades” (p.50).  O processo de adequação profissional exige do indivíduo uma auto-análise crítica acerca de se seus pontos fortes e fracos, de seus limites. A importância desse pilar se deve fundamentalmente ao fato de que profissionais satisfeitos com suas funções realizam suas funções com maior disposição (logo, realizam-nas melhor) e, inclusive, possuem maior disposição para ir atrás de trabalho. Como ressalta Minarelli, “não existe nada pior do que um trabalho feito por obrigação, aquele para o qual você não tem jeito, do qual não gosta” (p.51).
Percebo, com isto, que indivíduos detentores deste atributo possuem maiores condições de obterem um emprego e de alcançarem o sucesso em relação à ocupação escolhida. Lembremos, aqui, que uma vez sendo a adequação vocacional um dos elementos constituintes da empregabilidade, essa perpassa pela noção da capacidade de se trabalhar e, também, de se conseguir trabalho, devido, principalmente, ao fator motivacional. Contudo, como profissional da área de economia, não posso desconsiderar que o receio de desemprego mantém inúmeros indivíduos atuando em áreas que não condizem com seus reais anseios profissionais. Tais indivíduos se vinculam a determinadas áreas por estas oferecerem uma maior estabilidade de emprego ou de fonte de renda, num cenário de grande imprevisibilidade que é o mercado de trabalho atual.
O segundo pilar listado por Minarelli foi o da competência profissional, o qual representa “os conhecimentos adquiridos, as habilidades físicas e mentais, o jeito de atuar e a experiência” (p.52). Este pode ser desenvolvido através da formação escolar, dos treinamentos recebidos, do autodidatismo e da vivência cotidiana. Uma vez que vivemos em um mundo de rápidas e contínuas mudanças, a capacidade de atualização às necessidades do mercado se tornou condição de primeira ordem à sobrevivência no mercado de trabalho atual. Contudo, o autor faz uma ressalva: o profissional, além de posicionar-se como solucionador de problemas à disposição do mercado, precisa fazer com que o mercado tome conhecimento de sua existência e de sua competência.
A partir da década de 90, o conceito de empregabilidade passou a ser veiculado em documentos do Ministério do Trabalho, explícito na passagem “a empregabilidade deve ser entendida como capacidade não só de se obter um emprego, mas sobretudo de se manter em um mercado de trabalho em constante mutação” (BRASIL/MTb, 1995.p.5). Noto, neste excerto, que se atentar para a empregabilidade tornou-se imprescindível no mercado de trabalho de atual, marcado por contínuas mudanças em decorrência da competitividade entre as empresas. Isto implica em constantes alterações nos arranjos organizacionais das mesmas, o que tem reflexos diretos no desempenho do profissional. Deste modo, o profissional empregável, segundo Cabrera (2000), é “aquele sujeito que se preocupa em acumular e manter atualizadas suas competências, o conhecimento e a rede de relacionamentos, de forma a ter sempre em suas mãos o arbítrio sobre o projeto de carreira” (Cabrera, 2000. p.80).
Assim, maiores exigências nos campos da educação e da formação profissionais tornam-se claras para mim, assim como a demanda por profissionais mais “flexíveis”. Esta flexibilidade à qual me refiro compreende algumas noções como inovação, habilidade para responder positivamente a mudanças e desafios, autocontrole (no sentido de ser sensível às emoções dos outros e de ser eficaz em situações de stress), facilidade e ânsia de aprender, capacidade de reflexão crítica acerca do próprio desenvolvimento profissional, habilidade para trabalhar em ambientes ambíguos e complexos e capacidade de argüição. Lembro aqui a ressalva feita por Minarelli: de nada adianta desenvolver todos estes atributos se estes não forem divulgados ao mercado. Além das qualidades acima, o profissional deve ser capaz de realizar sua autopromoção, seu marketing pessoal. Profissionais da minha geração foram amplamente beneficiados pela revolução das telecomunicações, pois, através da internet, por exemplo, puderam se fazer conhecidos às empresas por meio dos sites de recrutamento, assim como manter sua rede de contatos atualizada através dos sites de relacionamento.
O terceiro pilar enumerado por Minarelli foi o da idoneidade, cujo conceito é intuitivo e não admite meio-termo: ou o profissional é idôneo, correto, íntegro, ou não é. Como define o próprio autor, profissional idôneo é aquele “que conduz sua vida e seu trabalho dentro de princípios legais e éticos” (p.60), o que além de ser o mínimo esperado do mesmo, confere a ele “a consideração, o apreço, a admiração e a confiança das pessoas” (p.60). Percebo, através destas citações do autor, que ao se tratar da empregabilidade, não há espaço para o famigerado “jeitinho brasileiro”, construído em cima do amolengamento das relações de trabalho pautadas no favor, o qual atua como moeda de troca.  Deste modo, me refiro às negociações cujas bases éticas são contestáveis, aos casos de corrupção dentro das empresas, assim como à insensibilidade ética e à ausência de um código moral pelo qual guiar suas atitudes.
O pilar seguinte enumerado por Minarelli foi o da saúde física e mental. Para ele, este pilar merece atenção por representar o equilíbrio entre o trabalho e o lazer, sendo que “a sabedoria está em colocar o trabalho no seu devido lugar” (p.62). A prática de exercícios mantém o corpo funcionando devidamente, visto que os exercícios mentais mantêm o cérebro ativo, enquanto que os físicos conferem tonicidade e rigidez aos músculos, permitindo-lhes responder devidamente quando solicitados. Além da questão da saúde por si só, a importância disto vem do fato de que, como ressalta o autor, “uma pessoa saudável relaciona-se com outras pessoas de forma igualmente saudável, transmite uma imagem melhor, interage de maneira favorável, pois desperta a confiança de seu interlocutor, passando-lhe uma imagem de energia” (p.63).
Fica clara a mim a relação deste pilar com o da competência profissional. Este último, ao ser analisado, imprescinde da consideração da capacidade para lidar com stress e situações nas quais se age sob pressão, visto que um indivíduo pouco saudável tende a ter maiores problemas de adequação a ambientes desta natureza. A comparação mais imediata que me vem à cabeça ao se tratar de um profissional que não preza pela saúde é a de um carro com baixo nível de combustível. Um veículo cujo nível de combustível encontra-se elevado e que assim é mantido constantemente apresenta um desempenho superior àquele que não o faz, pois evita desgaste e sobrecarga do motor desnecessários. Como afirma Minarelli, “somos submetidos ao desgaste natural do envelhecimento, que pode ser acelerado ou não, dependendo da forma como vivemos e tratamos o nosso corpo” (p.62). Isso tem implicações diretas na empregabilidade dos indivíduos, pois as empresas buscam profissionais cujo desempenho é superior ao da média, cuja atuação não comprometa a cadeia de geração e transferência de valor das mesmas.
O quinto pilar enumerado por Minarelli foi o da reserva financeira e das fontes alternativas. A importância deste pilar advém do fato de que “o profissional precisa ter uma reserva, seja para as emergências que podem ocorrer no dia-a-dia, seja para o período pós-demissão” (p.65). Isso interfere na empregabilidade, pois impede que os profissionais que trabalham sob regime salarial tenham “sua idoneidade afrontada [...] em função da defesa do emprego” (p.65). Eu percebo uma importância deste pilar correlacionada à defendida pelo autor. Em uma situação de desemprego, não é absurdo admitir que os profissionais se afastem de sua área de formação e se apeguem à primeira oportunidade de emprego que lhes surgir, dado o intenso grau de stress e insegurança aos quais estes estão submetidos quando se encontram desempregados. Devido a isso, uma reserva financeira e uma fonte alternativa de renda auxiliariam o profissional a seguir a sua real vocação profissional, a qual representa outro fator de interferência na empregabilidade do indivíduo.
O sexto e último pilar enumerado pelo autor foi o do relacionamento. Minarelli afirma que “quem conhece pessoas adquire informações e quem tem informações tem acesso” (p.69), os quais representam “garantia de um diálogo mais produtivo e de um provável negócio” (p.69). Para o autor, os relacionamentos compõem o chamado capital social, o qual deve ser mantido com o devido zelo e atenção. Novamente, retomo ao que já disse antes, ao lembrar a facilidade propiciada pela revolução das telecomunicações. Este pilar foi amplamente beneficiado pelas redes de relacionamento, uma vez que permite aos indivíduos manterem seus contatos mais próximos de si. Desta forma, evita-se a indiferença e o esquecimento, pois, segundo Minarelli, “em termos profissionais, é importante que as pessoas que nós conhecemos saibam onde estamos, o que fazemos, que acompanhem nossa evolução profissional, conheçam nossas realizações profissionais” (p.71).  Isso favorece amplamente a empregabilidade, uma vez que o mercado, através de nossos relacionamentos interpessoais, toma conhecimento de quem nós somos, o que fazemos e que estamos disponíveis a uma possível oportunidade de emprego.
Penso que não é possível classificar algum dos pilares como mais importante ou preponderante aos demais. Posso, apenas, aceitar o argumento de Minarelli que afirma ser imprescindível a articulação dos mesmos devido à interdependência existente entre os mesmos. Complementarmente à noção de empregabilidade desenvolvida pelo autor, recorro a uma citação de Shiroma (1998), a qual afirma que “o termo tem sido utilizado para descrever a preparação das habilidades necessárias para que uma pessoa construa as habilidades específicas que precisará no trabalho”, dentre as quais encontram-se “aquelas relativas à comunicação, relações interpessoais, solução de problemas e gestão de processos organizacionais” (Shiroma, 1998. p.2).

Referências Bibliográficas
BRASIL/MEC/MTb. Política para a Educação Profissional. Versão preliminar, 1995.

CABRERA, L.C., Sua Carreira: Pronto para ser Contratado? Veja 25/10/2000, EDIÇÃO: 1672a p. 80

SHIROMA, ENEIDA OTO. Da competitividade para a empregabilidade: razões para o deslocamento do discurso. In: II Seminário de Educação Profissional – realizado no CEFET – PR. 27/12/98. 9p. p.2.


Tirando o "selo"

Bom, pra começar, gostaria de dizer que não sei extamente para que ou por que estou fazendo esse blog. Talvez, seja pela vontade que eu tenho de publicar algumas coisas que escrevo e outras que tenho vontade de escrever, mas que não o faço porque sei que ninguém vai ler. Quem sabe eu me sinta motivado a escrever mais, sobre mais assuntos...

Vamos ao que interessa: em primeiro lugar, acho que o nome do blog é bem adequado a ele (ou a mim, seu autor), pois de certa forma eu vou expor aqui coisas que dizem respeito à minha vida pessoal e profissional, ou vou apenas manifestar uma opinião sobre determinado assunto. Em segundo lugar, justamente por ser público, o blog vai me permitir ter acesso a diversas opiniões sobre minhas idéias, sejam a favor ou contra. Eu acho isso muito importante, pois muitas das críticas e dos "nãos" que ouvi até hoje foram de suma importância para o meu amadurecimento. Brincando com a metáfora do título, foram pedras no meu caminho que me ajudaram a contruir minhas pontes (mentira, porque eu não sou castor pra contruir ponte no meio da floresta, mas vocês entenderam a idéia...).

Por fim, gostaria de lembrar que é a primeira vez que faço um blog e que não sei usar muito bem as ferramentas dele (até semana passada eu mal sabia usar minha página do facebook e até hoje me bato um pouco). Portanto, não esperam muitos efeitos visuais bombásticos de mim!

Hugs and muffins,

Aroldo Rodolfo.