sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Série Brasil 2015

Inspirado na edição nº 31 da Revista Mundo Corporativo, da Consultoria Deloitte, decidi escrever uma série de posts relacionados a perspectivas da economia brasileira para 2015. Nos últimos anos, o Brasil apresentou uma trajetória de crescimento econômico significativo - exceto em 2009, decorrente da crise financeira global - impulsionada por uma maior expansão da renda e do crédito, bem como diminuição da taxa de desemprego, que propiciaram o ingresso de mais de 30 milhões de brasileiros na classe C.

Todos esses fatos citados acima - em comunhão a outros, como o aumento da taxa de penetração de computadores com internet na residências brasileiras - provocaram mudanças no perfil de consumo das pessoas, sendo alvo de inúmeras pesquisas. As classes C, D e E, até então ignoradas por muitas dessas pesquisas, hoje representam 50% do consumo nacional, ainda que sejam 85% da população brasileira. Os hábitos de consumo dessa parcela da população ainda são pouco conhecidos, por isso, aqueles que identificá-los primeiro saem na frente na corrida pela confiança desses consumidores. Devido à dimensão das mudanças que o país tem vivenciado, irei escrever essa série de posts. Aguardem!

The Internet Audience in Brazil

Em continuação ao post sobre o Facebook, decidi colocar alguns números que decididamente influenciaram a empresa a abrir um escritório no país. Os dados são da ComScore, uma das maiores empresas do mundo no ramo de coleta de dados sobre o meio digital. Recentemente, lançou a pesquisa “The Brazilian Online Audience”, onde comparativos entre o uso da Internet aqui e no mundo apresentam como os brasileiros estão usando a web.
Seguem abaixo algumas das informações do relatório:

» O uso da Internet cresceu 15% na América Latina entre 2009 e 2010, ao passo que a taxa de crescimento do uso da Internet no Brasil foi de 20% entre 2009 e 2010;

» Em 2014, a previsão é de que o acesso a Internet via dispositivos móveis ultrapasse o feito via desktop ou notebooks;

» Para quem usa Internet via mobile, checar o email pessoal é a 2° atividade mais realizada online, à frente das mídias sociais e atrás das buscas (o que não pode ser ignorado por aqueles que realizam marketing digital)

» 33,7% dos usuários da Internet no Brasil possuem idade entre 25 e 34 anos.


» E-mail é a terceira atividade online mais popular no Brasil, com 12% acima da média mundial;

» E-commerce é a sexta atividade online mais popular no Brasil, com 6% acima da média mundial;

» E-commerce teve crescimento de 9% no Brasil;

» 7 em cada 10 usuários de Internet no Brasil visitaram um site de e-commerce em dezembro de 2010;

» Os três maiores sites de e-commerce no Brasil são: Mercado Livre, Americanas e Buscapé;

» As redes sociais tiveram crescimento de 10% no Brasil entre 2009 e 2010 e 4% no mundo;


» O Facebook cresceu 258% no Brasil e 41% no mundo;

» O Brasil é o segundo país no mundo que mais usa Twitter;

» O Brasileiro é um dos povos que mais visita blogs no mundo;

» O Brasil possui a oitava maior audiência de Internet do mundo.

De maneira bastante breve, pode-se concluir que as empresas atuantes no mercado brasileiro devem investir em redes sociais e publicidade via e-mail, para uma boa manutenção de sua imagem no mercado, agregar valor à sua marca e incrementar suas vendas (sejam elas via internet ou em lojas físicas).

Fonte: eBehavior

quinta-feira, 24 de fevereiro de 2011

O Facebook está ficando verde e amarelo!

Todo mundo sabe que os brasileiros adoram as redes sociais e cada vez mais as empresas percebem que estes sites de relacionamento são um ótimo meio de realizar anúncios publicitários e campanhas voltados para públicos específicos. Somando-se isso ao bom momento econômico que o Brasil está vivenciando, resolve-se a equação que explica as recentes investidas do Facebook no país. Em janeiro deste ano, a empresa fundou seu primeiro escritório em território brasileiro e, recentemente, anunciou a contratação Alexandre Hohagen, ex-Google, como presidente do Facebook no Brasil.



Segundo Alexandre Campos Silva, consultor da IDC Brasil, especializado na área de mídias digitais, a rede social quer aproveitar o crescimento econômico do país, período marcado por forte inclusão digital, com expansão do número de internautas e de usuários de celulares. Esse cenário mostra-se propício a investimentos de empresas em marketing digital, uma das principais fontes de receita do Facebook, sendo uma ótima ferramenta para agregar valor à marca e melhorar o relacionamento com os clientes (algo que muitas empresas ainda não fazem ou fazem de maneira ineficiente).

Atualmente, o Facebook não é a empresa líder no mercado brasileiro de redes sociais, papel desempenhado atualmente pelo Orkut, site de relacionamento mais popular no país. Contudo, espera-se que a empresa de Mark Zuckerberg assuma esse posto num futuro breve, semelhantemente ao que aconteceu na Índia. De acordo com o consultor da IDC Brasil, o Facebook deve alavancar suas operações no país com a fundação desse escritório, bem como ocorreu com o Google com a abertura de filiais na América Latina.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Um por todos e todos por um... desconto!!

Não sei se todos sabem (ainda que a descrição do blog já fale disso), mas eu sou um entusiasta de e-commerce. Fascinado por práticas de consumo e inteligência competitiva, acredito que a internet representa um cenário propício a grande aprendizado nessa área, uma vez que proporciona aos agentes envolvidos nas transações comerciais uma série de possibilidades inexistentes no “mundo real”, daí o meu grande interesse por e-commerce. Já tem algum tempo que venho querendo escrever aqui sobre algo diretamente relacionado ao comércio eletrônico e aproveitando a matéria da VEJA desta semana (16 de fevereiro de 2011, edição 2204), decidi então escrever sobre o fenômeno dos sites de compras coletivas.

Para aqueles que não sabem, os sites de compras coletivas baseiam-se na idéia de se lucrar na quantidade, oferecendo serviços e produtos de outras empresas com descontos que variam entre 50% e 90%, recebendo em troca uma comissão em cima daquilo que for vendido. Esse novo mercado surgiu há pouco tempo, sendo que o primeiro negócio do gênero apareceu em 2008, no EUA. No Brasil, este serviço surgiu há pouco mais de um ano, porém os números brasileiros impressionam.

Segundo a reportagem, nesse curto espaço de tempo em que o mercado de compras coletivas teve início no país, surgiram 400 empresas do ramo, as quais atuam em 45 cidades, e outras 600 estão por vir até março. Atualmente, há 4 milhões de brasileiros cadastrados nesses sites, o que lhes garantiu um faturamento de 200 milhões de reais em 2010. Segundo previsões, espera-se que o número de cadastrados quintuplique até o final do ano, bem como o faturamento anual do setor. Apesar disso, esse mercado encontra-se concentrado: 80% da participação nesse mercado é composto pelas empresas Groupon, Peixe Urbano, ClickOn e Imperdível. Os 20% restantes é representado por empresas menores, sem grande representatividade no mercado e que possivelmente serão “engolidas” por empresas maiores, que possuem mais capital e expertise sobre o mercado eletrônico, elementos inexistentes em muitos dos proprietários de sites de compras coletivas. Por favor, não vamos confundir mercado concentrado com ausência de competição. Muito pelo contrário, mercados oligopolísticos são os que apresentam competição mais acirrada!

Justamente por deterem o poder de mercado descrito acima, estes sites maiores podem concorrer a preços mais baixos e o raciocínio disso é simples: devido ao grande número de acessos aos sites tipo o Groupon, empresas que anunciam nesses sites podem oferecer descontos maiores, pois o grande número de acessos garantirá uma grande visibilidade ao produto/serviço oferecido e, por conseqüência, haverá um grande número de compradores. Os sites, por sua vez, podem cobrar comissões maiores dos anunciantes, uma vez que inspiram maior confiabilidade nos consumidores e, consequentemente, atraem um número maior destes e proporcionam melhores resultados às empresas que recorreram a esse serviço. É sabido, contudo, que muitos dos anúncios não cumprem o prometido, ocorrendo, inclusive casos de discriminação entre clientes. Muitos dos sites nem ao menos visitam o local de seus anunciantes, o que corrobora para acontecimentos desse tipo (em contrapartida, os sites maiores ganham mais confiabilidade justamente por prezarem pelo que está sendo anunciado em seus domínios). Porém, a insatisfação do cliente será assunto de um próximo post.

Resultados controversos

De fato, esse novo mercado proporciona uma intensificação no nível de transações, favorecendo a economia do país, de maneira geral. Contudo, os resultados para as empresas ainda são pouco precisos e, no geral, variam de caso a caso. Muitas empresas utilizam esse recurso para divulgar seus serviços e ampliar sua participação no nicho de mercado do qual participam, esperando, com isso, conquistar clientes fiéis que retornem mesmo com preços normais. Porém, muitos dos compradores não possuem condições financeiras de adquirirem determinados produtos e serviços caso estes não estejam em promoção. Dessa forma, pode-se obter um ganho de público pontual, todavia, este não se tornará um público consumidor cativo, não agregando real valor negócio.

Por ser um mercado muito recente, os números acerca das compras coletivas ainda são pouco precisos. Prever as reais dimensões que este mercado irá tomar no futuro seria uma grande tolice e perda de tempo, porém, pode-se dizer que o próximo passo dos sites de compras coletivas seria o de atuar mais focado em diferentes nichos de mercado. Desse modo, haverá maior precisão na busca de se satisfazer o consumidor, bem como maiores ganhos diferenciais para aqueles que deterem melhores informações sobre seu respectivo mercado-alvo. Uma forma de se alcançar isso é através de monitoramento e gestão de mídias sociais eficientes, o que ainda recebe pouca atenção de muitas empresas e será, também, assunto para um próximo post.

sábado, 12 de fevereiro de 2011

Da Vogue para o Valor!

Recentemente o Brasil virou o centro das atenções mundiais e não foi pelas catástrofes causadas pelas chuvas no Rio ou por mais um escândalo de corrupção. Foi pela realização dos dois mais importantes eventos de moda do País: a São Paulo Fashion Week e o Fashion Rio. A última edição desses eventos mostrou o que vai ser tendência no inverno de 2011 e teve grande repercussão na imprensa - local e internacional. Ué, mas o blog não era sobre economia? Sim, meus caros, é sobre economia. Essa breve introdução foi só pra justificar a escolha do tema deste post: a economia da moda!

Segundo o site do Senac Rio Fashion Business – maior bolsa de negócios de moda da América Latina – o mercado da moda é o 2º empregador no Brasil e o 3º do Rio de Janeiro, responsável por mais de 3 milhões de empregos formais no estado. Eventos como a Fashion Week servem pra evidenciar e impulsionar os efeitos multiplicadores da moda na economia, tanto a montante quanto a jusante, pois incentiva o aumento da produção dos insumos básicos à confecção de roupas e acessórios, aumenta o turismo internacional de negócios e, principalmente, emprega muita gente, desde trabalhadores pouco qualificados na produção de tecidos até administradores e produtores de eventos, por exemplo.

Porém, nem tudo são flores nessa história. O Brasil vem apresentando déficits sucessivos em sua balança comercial (BC) do setor têxtil e de confecção, tendo atingido a marca de 2.772,5 milhares de dólares FOB negativos no período de janeiro a dezembro de 2010. Excluindo-se a fibra de algodão, esse déficit aumenta 3.524,5 milhares de dólares FOB. Segundo relatório da ABIT (Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção), quase 60% do consumo industrial brasileiro de fibras e filamentos é de fibras naturais (37,5% de fibras sintéticas e o restante de fibras artificiais), sendo que o algodão é responsável por mais de 58% do consumo total de fibras. Uma vez que este insumo é largamente produzido no Brasil, parte considerável da demanda local por este produto é suprida por produção nacional, atuando também como componente importante da pauta de exportações do setor têxtil e de confecção, explicando, assim, o aumento do déficit quando se exclui esse item da análise da BC.

                             Mayana Moura, desfilando pela Neon na SPFW, edição outono-inverno 2011

Ainda assim, o mercado da moda brasileiro vem se expandindo e se modificando. Segundo release do Rio-à-Porter, salão de negócios de moda e design oficial do Fashion Rio, o salão gerou negócios da ordem de R$ 610 milhões, um aumento de cerca de 16% em relação à edição Inverno 2010, enquanto as exportações cresceram 20%, representando 22 milhões de dólares. Além disso, a cada ano que passa a moda brasileira ganha maior notoriedade internacional, a exemplo dos comentários da editora de criação da Vogue, Candy Pratts Price. Após ter assistido à edição de outono-inverno da São Paulo Fashion Week, Candy afirmou que os brasileiros estão no caminho certo, tendo eleito três coleções que melhor simbolizam a energia e a cultura brasileiras: Osklen de Oskar Metsavaht, Ronaldo Fraga e Neon da dupla Rita Comparato e Dudu Bertholini. Se eu me lembro bem, nenhuma dessas contou com superstars em seus desfiles, o que ressaltou a qualidade do que é produzido aqui e não desviou a atenção para os “supermodels” participantes!

Seguem abaixo alguns números que descrevem a Indústria da Moda Brasileira em 2009:

 Faturamento: US$ 47,4 bilhões (expectativa de chegar a US$ 52 bilhões até o final de 2010)

• Número de empresas: 30 mil
• 5º maior produtor têxtil do mundo
• Exportações (sem fibra de algodão): US$ 1,2 bilhão
• Importações (sem fibra de algodão): US$ 3,4 bilhões
• Saldo da balança comercial (sem fibra de algodão): US$ 2,2 bilhões negativos
• Investimentos no setor: US$ 850 milhões em 2009
• Produção média de confecção: 9,8 bilhões de peças
• Trabalhadores: 1,7 milhão de empregados, dos quais 75% são mão-de-obra feminina
• 2º maior empregador da indústria de transformação
• 2º maior produtor e 3º maior consumidor de denim do mundo
• Representa 13,15% dos empregos da indústria de transformação e cerca de 3,5% do PIB total brasileiro


Fontes:
            http://www.rioaporter.com.br/2010_2/codigo2/home.asp?idioma=1

            http://www.abit.org.br/site/









quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Profissão: Economista

Uma vez que o blog é escrito por um estudante de Economia, decidi fazer uma seção exclusivamente para posts sobre economia. E nada melhor para começar do que expor a definição do CORECON-BA acerca da profissão economista. Segue abaixo:

 

A atividade profissional privativa do Economista exercita-se, liberalmente ou não, por estudos, pesquisas, análises, relatórios, pareceres, perícias, arbitragens, laudos, certificados, ou por quaisquer atos, de natureza econômica ou financeira, inclusive por meio de planejamento, implantação, orientação, supervisão ou assistência dos trabalhos relativos às atividades econômicas ou financeiras, em empreendimentos públicos, privados ou mistos.

São inerentes ao campo profissional do Economista, de conformidade com a legislação pertinente, as seguintes atividades:

PLANEJAMENTO, PROJEÇÃO, PROGRAMAÇÃO, ANÁLISE ECONÔMICO-FINANCEIRA DE INVESTIMENTOS E FINANCIAMENTOS DE QUALQUER NATUREZA;

ESTUDOS, ANÁLISES E PARECERES PERTINENTES A MACRO E MICROECONOMIA;

PERÍCIAS*;

CÁLCULOS DE LIQUIDAÇÃO DE SENTENÇA EM PROCESSOS JUDICIAIS;

ARBITRAMENTOS;

AVALIAÇÕES*;

AUDITORIA INTERNA E EXTERNA;

* Desde que sejam de natureza econômica, como avaliação patrimonial, por exemplo.












domingo, 6 de fevereiro de 2011

GVT quer investir R$ 2 bilhões na cidade de São Paulo até 2014

RIO - A GVT espera investir R$ 2 bilhões nas operações da cidade de São Paulo até 2014. A empresa pretende iniciar a atuação na capital no segundo semestre deste ano, mas está na dependência da concessão de licenças pela prefeitura.

O presidente da companhia, Amos Genish, ressaltou que já há um plano B para o caso da demora na concessão das licenças. Os investimentos destinados a São Paulo seriam repassados para o início das operações em outras cidades, principalmente, no Estado de São Paulo, no Rio de Janeiro e no Nordeste.

“Só não podemos garantir o início em São Paulo porque ainda não temos as licenças”, frisou Genish. Outra expectativa da GVT é iniciar em julho o serviço de TV por assinatura, tranformando-se em uma empresa “triple play”, oferecendo também internet banda larga e telefonia fixa. Genish garante que, a partir da entrada da GVT no mercado de TV, a tendência será de preços cada vez menores.

“Vamos mudar o mercado, que é concentrado em poucas empresas, com poucas ofertas”, afirmou, lembrando que a ideia é oferecer canais em alta definição sem a necessidade de mensalidades mais caras.

O vice-presidente executivo da empresa, Alcides Troller, lembrou que o objetivo da GVT é utilizar no Brasil uma tecnologia que permita a convergência da internet com a TV.

Genish afirmou que, por ora, não é intenção da empresa entrar no mercado de telefonia móvel. No longo prazo, a companhia pode estudar a possibilidade de estrear no segmento quando for lançada a tecnologia 4G no Brasil.

Fonte: Rafael Rosas/ Valor


quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

Intervir ou assistir: eis a questão!

Ontem pela tarde li um artigo que o Delfim Netto escreveu para o Valor, postado pelo Alfredo Passos em seu blog, e decidi escrever sobre o texto aqui no Trilhas. Diga-se de passagem, o blog do Alfredo é bem legal! Em meio a uma crise financeira de proporções tão alarmantes como foi esta última vivida pelo mundo, era de se esperar o aumento no nível de desconfiança sobre o sistema financeiro, aumentando os problemas de risco moral (risco existente ao se tomar alguma decisão financeira em que um dos agentes envolvidos possui mais informações do que o outro, a chamada assimetria de informação) e seleção adversa (também influenciada pela assimetria de informação, que leva o agente a "selecionar" serviços e bens de mercado de forma incorreta). Ainda que o sistema de economia de mercado tenha sido fortemente abalado, também não acredito que o mesmo esteja em ruínas, bem como acredito ser este o melhor já vivido pela humanidade até hoje. Devo reconhecer que tal sistema não é perfeito, porém, é o que me parece mais justo ao se colocar o enfoque no homem, enxergando-o enquanto indivíduo econômico, pois preza pela meritocracia. Repito que isto não torna a economia de mercado imune a falhas - elas existem e são muitas!

Nesse sentido, acredito na presença do Estado indutor (constitucionalmente controlado - nas palavras de Delfim) enquanto agente responsável pela manutenção da concorrência e da economia de mercado. Não acredito em sistemas perfeitos, com níveis ótimos de satisfação entre ofertantes e demandantes, em que o processo concorrencial por si só é um alocador ótimo de recursos ou cuja toda soberania na tomada de decisão esteja nas mãos de um único agente - o Estado.

Enquanto estudante de economia, a minha visão do mercado é: existem inúmeras necessidades humanas e estas se modificam muito rapidamente. Portanto, para que estas sejam atendidas, devem existir agentes interessados em atendê-las, visando obter, em contrapartida, algum ganho adicional por tal esforço: o lucro. De imediato, pode-se excluir o Estado do “hall” dos agentes responsáveis por suprir necessidades tão diferenciadas, inclusive, por não deter recursos suficientes para serem investidos nesse processo. Sobram as empresas. Contudo, visando obter lucros "extraordinários", estas podem recorrer a práticas pouco apreciáveis, até mesmo antiéticas, necessitando de regulação. Um exemplo claro disso é a possibilidade de cartel, em que os produtores combinam preços e extinguem as práticas concorrenciais, cujo principal reflexo é sentido pelo consumidor, agora submisso a preços menos competitivos e produtos de qualidade inferior (se não há concorrência, não há estímulo para se inovar e alcançar fatias mais expressivas de mercado ou lucros extraordinários). Justamente por isso que existe o CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), cuja finalidade é a de “orientar, fiscalizar, prevenir e apurar abusos de poder econômico, exercendo papel tutelador da prevenção e da repressão a tais abusos”, vide site do próprio Conselho.

Segundo Delfim, para que a economia de mercado ocorra, faz-se necessário que a sociedade aceite e dê dignidade às atividades realizadas pelos inovadores e que estes possam se apropriar dos benefícios de suas realizações, porém, isto imprescinde das mãos de um Estado indutor, “com mãos leves e amigável em relação a eles”. Assim, Delfim chama atenção de que era esse Estado “amigável” com os empreendedores que faltava na China e na Índia até 1978 e 1991, respectivamente:

O que faltava era um Estado indutor que: 1) respeitasse e dignificasse a atividade do setor privado; 2) libertasse o “espírito animal” dos empresários para utilizar e dar maiores oportunidades de progresso à mão de obra; e 3) garantisse que cada um poderia apropriar-se dos benefícios de sua iniciativa.”

Eu tenho que discordar. O Estado na China foi sim o grande responsável pelo incrível crescimento econômico do país, atraindo capitais estrangeiros para o país. Porém, isto foi feito às custas de uma manutenção artificial da moeda chinesa desvalorizada em relação às moedas de outros países, de uma legislação trabalhista praticamente inexistente, permitindo a submissão dos trabalhadores a extensas jornadas de trabalho sendo miseravelmente remunerados e, principalmente, do desrespeito ao direito de propriedade, pois as tecnologias e o modo de produção trazidas por empresas estrangeiras são copiados e utilizados por empresas chinesas para confeccionar produtos semelhantes. Assim, não concordo que o Estado chinês tenha sido indutor, com mãos amigáveis, muito pelo contrário, garantiu que cada um poderia apropriar-se dos benefícios de sua iniciativa – no caso chinês, leia-se iniciativa de descobrir o modus operandi patenteado por outrem e passar a produzir réplicas idênticas.

Delfim acredita que o mesmo fenômeno de aceleração econômica aconteça na Rússia, país que ainda apresenta fortes resquícios da ineficiência e baixa produtividade da URSS. Segundo ele, o Estado teria papel crucial nesse processo, privatizando parte de suas funções e passando a atuar com mais afinco em outras – a exemplo do protecionismo e do subsídio de alguns setores, como o automotivo, o aeroespacial e a agricultura. Eu particularmente não acredito que práticas protecionistas sejam o melhor caminho para se construir uma economia sustentável e competitiva. Ao contrário, sou convicto de que investimentos em educação e tecnologia são os verdadeiros responsáveis por construir as bases de sustentação de uma economia sólida e competitiva a longo prazo.

Finalizando, concordo com Delfim no que se refere à economia industrial como “a face” mais importante da economia, devendo ser priorizado em detrimento do capital financeiro. Contudo, o capital financeiro não pode ser ignorado, pois propicia a realização de uma série de investimentos em capital fixo, gerando emprego e renda e, por conseguinte, apresentado efeitos multiplicadores positivos e reais na economia de um país.