Não sei se todos sabem (ainda que a descrição do blog já fale disso), mas eu sou um entusiasta de e-commerce. Fascinado por práticas de consumo e inteligência competitiva, acredito que a internet representa um cenário propício a grande aprendizado nessa área, uma vez que proporciona aos agentes envolvidos nas transações comerciais uma série de possibilidades inexistentes no “mundo real”, daí o meu grande interesse por e-commerce. Já tem algum tempo que venho querendo escrever aqui sobre algo diretamente relacionado ao comércio eletrônico e aproveitando a matéria da VEJA desta semana (16 de fevereiro de 2011, edição 2204), decidi então escrever sobre o fenômeno dos sites de compras coletivas.
Para aqueles que não sabem, os sites de compras coletivas baseiam-se na idéia de se lucrar na quantidade, oferecendo serviços e produtos de outras empresas com descontos que variam entre 50% e 90%, recebendo em troca uma comissão em cima daquilo que for vendido. Esse novo mercado surgiu há pouco tempo, sendo que o primeiro negócio do gênero apareceu em 2008, no EUA. No Brasil, este serviço surgiu há pouco mais de um ano, porém os números brasileiros impressionam.
Segundo a reportagem, nesse curto espaço de tempo em que o mercado de compras coletivas teve início no país, surgiram 400 empresas do ramo, as quais atuam em 45 cidades, e outras 600 estão por vir até março. Atualmente, há 4 milhões de brasileiros cadastrados nesses sites, o que lhes garantiu um faturamento de 200 milhões de reais em 2010. Segundo previsões, espera-se que o número de cadastrados quintuplique até o final do ano, bem como o faturamento anual do setor. Apesar disso, esse mercado encontra-se concentrado: 80% da participação nesse mercado é composto pelas empresas Groupon, Peixe Urbano, ClickOn e Imperdível. Os 20% restantes é representado por empresas menores, sem grande representatividade no mercado e que possivelmente serão “engolidas” por empresas maiores, que possuem mais capital e expertise sobre o mercado eletrônico, elementos inexistentes em muitos dos proprietários de sites de compras coletivas. Por favor, não vamos confundir mercado concentrado com ausência de competição. Muito pelo contrário, mercados oligopolísticos são os que apresentam competição mais acirrada!
Justamente por deterem o poder de mercado descrito acima, estes sites maiores podem concorrer a preços mais baixos e o raciocínio disso é simples: devido ao grande número de acessos aos sites tipo o Groupon, empresas que anunciam nesses sites podem oferecer descontos maiores, pois o grande número de acessos garantirá uma grande visibilidade ao produto/serviço oferecido e, por conseqüência, haverá um grande número de compradores. Os sites, por sua vez, podem cobrar comissões maiores dos anunciantes, uma vez que inspiram maior confiabilidade nos consumidores e, consequentemente, atraem um número maior destes e proporcionam melhores resultados às empresas que recorreram a esse serviço. É sabido, contudo, que muitos dos anúncios não cumprem o prometido, ocorrendo, inclusive casos de discriminação entre clientes. Muitos dos sites nem ao menos visitam o local de seus anunciantes, o que corrobora para acontecimentos desse tipo (em contrapartida, os sites maiores ganham mais confiabilidade justamente por prezarem pelo que está sendo anunciado em seus domínios). Porém, a insatisfação do cliente será assunto de um próximo post.
Resultados controversos
De fato, esse novo mercado proporciona uma intensificação no nível de transações, favorecendo a economia do país, de maneira geral. Contudo, os resultados para as empresas ainda são pouco precisos e, no geral, variam de caso a caso. Muitas empresas utilizam esse recurso para divulgar seus serviços e ampliar sua participação no nicho de mercado do qual participam, esperando, com isso, conquistar clientes fiéis que retornem mesmo com preços normais. Porém, muitos dos compradores não possuem condições financeiras de adquirirem determinados produtos e serviços caso estes não estejam em promoção. Dessa forma, pode-se obter um ganho de público pontual, todavia, este não se tornará um público consumidor cativo, não agregando real valor negócio.
Por ser um mercado muito recente, os números acerca das compras coletivas ainda são pouco precisos. Prever as reais dimensões que este mercado irá tomar no futuro seria uma grande tolice e perda de tempo, porém, pode-se dizer que o próximo passo dos sites de compras coletivas seria o de atuar mais focado em diferentes nichos de mercado. Desse modo, haverá maior precisão na busca de se satisfazer o consumidor, bem como maiores ganhos diferenciais para aqueles que deterem melhores informações sobre seu respectivo mercado-alvo. Uma forma de se alcançar isso é através de monitoramento e gestão de mídias sociais eficientes, o que ainda recebe pouca atenção de muitas empresas e será, também, assunto para um próximo post.
Muito bom o post e o título muito criativo.
ResponderExcluirOlha esse novo nicho de mercado tem surpreendido qualquer pessoa, imagina só os economistas? Eu particularmente nunca comprei num destes sites, mas sou cadastradas em dois dos maiores. Nunca comprei em certa parte por receio de que haja problemas após adquirir o produto ou serviço, já que trata-se de um mercado novo e que precisa muito ser amadurecido e porque as ofertas ainda são muito tímidas, nada que chame muito a atenção e que realmente seja de grande valia para minha vida.
Mas estou torcendo pra que este mercado cresça ainda mais, pois pagamos muito quando compramos individualmente, pagamos por um determinado produto seu valor dobrado o que não concordo e nunca concordei e a desculpa que sempre foi dada é porque o governo cobra muitos impostos, sei que em parte é verdade e em parte não, há uma ambição desmedida por parte dos empresários.
Camila, obrigado pelos comentários!
ResponderExcluirOlhe, eu já comprei num desses sites e o atendimento do lugar foi ótimo. A comida tava boa e pretendo voltar lá, mas só depois que eu receber um aumento pois a pizzaria onde fui não cabe no meu bolso... ¬¬
Quanto à questão de preços individuais elevados, em parte faz sentido, sim. A carga tributária brasileira é uma das mais elevadas do mundo, o que corrobora com o argumento de muitos empresários, ainda que não explique o fato em sua totalidade, a exemplo de como você disse. Contudo, é basicamente a Lei da Oferta e da Demanda: se há quem compre a um preço elevado X, preço este que satisfaz minha expectativa de lucro, por que eu devo diminuir para um preço Y? Nesse cenário, pode-se dizer que a postura do empresário está consonante com as flutuações do mercado. Isso, é claro, sem contar com os milhares de motivos para se adquirir um produto/serviço qualquer: urgência do produto, marca, distinção por diferenciação, distinção por movimentos miméticos de grupo etc.
Bom, já estou na minha quinta compra. Dos produtos que comprei, só tou tendo problemas com um, e nem fui lá ainda! É que precisa agendar...
ResponderExcluirO que me irrita mesmo é a facilidade com que o brasileiro topa pagar um valor acima do necessário. Status é uma merda...
Só comprei um acarajé de dinha com 80% de desconto e ainda não fui lá saborear.
ResponderExcluirMuito bom o texto aroldo, conciso e de deliciosa leitura!
Valeu, Diogo!
ResponderExcluir